09/ 04/ 1966 - Rio de Janeiro/RJ Teatro de Arena |
Histórico
Depois do Show Opinião e de Liberdade, Liberdade, o Grupo Opinião parte para a criação de um texto teatral próprio. A partir de debates internos do grupo, os integrantes geram um roteiro escrito por Armando Costa, Denoy de Oliveira, João das Neves, Paulo Pontes, Pichin Plá, Thereza Aragão, Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, cabendo a estes dois últimos a redação e a autoria final da peça.
O texto mistura diversas linguagens do universo popular para falar de Roque, herói do imaginário brasileiro que, sendo pobre e sagaz, não hesita em lançar mão de recursos ilícitos para alcançar o que deseja. O que torna simpático esse herói - assim como Pedro Malazartes e, em Ariano Suassuna, João Grilo - é justamente a situação social difícil, que não lhe deixa outra saída senão enganar os outros porque "Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come". Agildo Ribeiro, no papel do protagonista, contribui para a comunicabilidade do espetáculo. Através do humor, os autores criam uma história de enganos mútuos, para demolir valores, instituições, regras sociais e normas de conduta.
Apesar da fragmentação da narrativa, acrescida de digressões acessórias que deslocam o enredo central para segundo plano, o texto ganha força pela diversidade de situações, pela riqueza de caracteres nas personagens, os achados humorísticos e as pitadas de prosa poética. A direção de Gianni Ratto obtém unidade estilística sem reduzir a diversidade proposta pelo texto e transita pelo universo popular e seus variados tons - do romance de aventura à comédia romântica, da sátira de costumes à comédia rasgada e à farsa, da literatura de cordel ao musical.
No enredo e na linguagem, a imaginação, a fantasia e a festa sobrepujam a verossimilhança. A exuberância formal e satírica da peça não esconde a postura política do Opinião. No texto do programa o grupo sublinha suas intenções: é amoral para fazer pouco das normas estabelecidas à revelia do povo; celebra a festa coletiva para se contrapor ao quietismo social que o regime de força impõe; aposta na cultura popular para se opor ao governo que, cerceando os direitos civis, desmerece o povo. Para se opor a isso é que "o Bicho é um voto de confiança no povo brasileiro".
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