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27/02/2011

Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come

09/ 04/ 1966 - Rio de Janeiro/RJ
Teatro de Arena


Histórico

O terceiro espetáculo do Grupo Opinião, que mais uma vez reafirma sua resistência ao regime militar, lança mão de um herói popular tipicamente brasileiro para demolir os valores estabelecidos, por meio do humor anárquico.


Depois do Show Opinião e de Liberdade, Liberdade, o Grupo Opinião parte para a criação de um texto teatral próprio. A partir de debates internos do grupo, os integrantes geram um roteiro escrito por Armando Costa, Denoy de Oliveira, João das Neves, Paulo Pontes, Pichin Plá, Thereza Aragão, Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, cabendo a estes dois últimos a redação e a autoria final da peça.


O texto mistura diversas linguagens do universo popular para falar de Roque, herói do imaginário brasileiro que, sendo pobre e sagaz, não hesita em lançar mão de recursos ilícitos para alcançar o que deseja. O que torna simpático esse herói - assim como Pedro Malazartes e, em Ariano Suassuna, João Grilo - é justamente a situação social difícil, que não lhe deixa outra saída senão enganar os outros porque "Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come". Agildo Ribeiro, no papel do protagonista, contribui para a comunicabilidade do espetáculo. Através do humor, os autores criam uma história de enganos mútuos, para demolir valores, instituições, regras sociais e normas de conduta.


Apesar da fragmentação da narrativa, acrescida de digressões acessórias que deslocam o enredo central para segundo plano, o texto ganha força pela diversidade de situações, pela riqueza de caracteres nas personagens, os achados humorísticos e as pitadas de prosa poética. A direção de Gianni Ratto obtém unidade estilística sem reduzir a diversidade proposta pelo texto e transita pelo universo popular e seus variados tons - do romance de aventura à comédia romântica, da sátira de costumes à comédia rasgada e à farsa, da literatura de cordel ao musical.


No enredo e na linguagem, a imaginação, a fantasia e a festa sobrepujam a verossimilhança. A exuberância formal e satírica da peça não esconde a postura política do Opinião. No texto do programa o grupo sublinha suas intenções: é amoral para fazer pouco das normas estabelecidas à revelia do povo; celebra a festa coletiva para se contrapor ao quietismo social que o regime de força impõe; aposta na cultura popular para se opor ao governo que, cerceando os direitos civis, desmerece o povo. Para se opor a isso é que "o Bicho é um voto de confiança no povo brasileiro".

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